quinta-feira, 18 de junho de 2009

Análise do CD "Um Dia Bem Melhor", de Dayana Trindade

Um Dia Bem Melhor” é o álbum de estreia da cantora joinvilense Dayana Trindade. Lançado em 2008, o trabalho reúne dez canções de autoria própria que marcam uma conotação "emepebista" nos arranjos e melodias. No time de Dayana figuram nomes de referência como Marcelo Vieira (violão e guitarra) e Gilberto Machado – o “Formiga” – (baixo), emprestando credibilidade no instrumental e somando responsabilidade à voz da cantora. As letras das composições não têm compromisso com o rótulo comum da música “gospel” e certamente não cabem no repertório fácil dos cultos dominicais, pois não se apóiam em repetições infindáveis ou frases feitas. O CD encarna certo tom intimista, às vezes reflexivo, bom para se ouvir em casa, com tempo, disposição e espírito desarmado. Extraída das experiências cotidianas, aquelas comuns a todos, e não restritas apenas aos evangélicos, a mensagem deste trabalho tem no Evangelho sua fonte, mas com a pretensão de desaguar além dele, especialmente para os que não o conhecem.

O álbum começa com a faixa título “Um Dia Bem Melhor”. E na verdade só poderia começar com essa ou com a quinta faixa – “Daqui Pra Sempre”. Nenhuma outra tem condições de segurar o peso de “abrir” o CD. A letra da música apóia-se na mensagem clássica do Salmo 30:5 – “Pode o choro durar uma noite, mas a alegria vem ao amanhecer”. A mensagem ganha estilo nos acordes do teclado conduzindo a canção num ritmo de reflexão. O desenho da música é bem retilíneo e tem maior vivacidade apenas na segunda parte. Isso deve desagradar os mais ansiosos por quebras e curvas, mas cai bem para quem gosta de privilegiar a letra.

A segunda faixa – “Lugar” – bem que poderia se evaporar do álbum e ir para outro lugar. É ruim de ouvir. É down. Felizmente ela não é a canção que introduz o disco, o que poderia comprometer uma boa primeira impressão. A letra é de relevância, mas o som não empolga, a música é desnecessariamente longa e serviria, talvez, como fundo nos créditos finais de um filme europeu. Faz-se justiça, no entanto, quanto a parte técnica: “Lugar” foi semifinalista no 2º Festival da Música e Integração Catarinense (Femic), em 2008. Isso serve para confirmar que a opinião técnica da crítica geralmente não coincide com a do público. Enquanto o ouvinte médio vê a música como linguagem e sentimento, o jurado de festival a vê como matemática. E números, como se sabe, não choram, não riem, não sentem.

Deus do Impossível” vem para recuperar o “tropeço” da faixa anterior, o que não é tarefa muito difícil. Tem uma mensagem mais congregacional, de temática recorrente e, por isso, sua beleza é amparada pela melodia. É agradável de ouvir. Um ponto negativo dessa faixa está no título: “Deus do Impossível” já nomeia músicas de Alda Célia, de Regis Danese, do ministério Trazendo A Arca e de outros cantores. É o tipo de coisa que faz com que a música já nasça com a identidade comprometida. Pode até ser excesso de preciosismo, mas a referência incômoda poderia ser facilmente contornada.

Em “Eu Quero Mais de Ti” – quarta música – a batida da bateria ganha evidência. A voz de Dayana também tem presença mais forte do que nas canções anteriores. A música ficou preenchida, envolvente e encorpada, com uma vibração que a torna singular. É uma canção que revela o potencial vocal da cantora e a competência do instrumental.

Na quinta faixa está a melhor canção do álbum. “Daqui Pra Sempre” é música para se ouvir diversas vezes seguidas e se arriscar a cantar junto o refrão. Tem uma letra de fácil assimilação e uma mensagem importante sobre a confiança em Deus. O tema de “Daqui Pra Sempre” sugere ser cantado depois de se passar por um momento difícil e ter alcançado êxito, superação e resposta. As experiências com as tribulações geram maturidade espiritual e a esperança de que “nem altura, nem profundidade, nem angústia ou setas da maldade nos impedirão de cantar”. Letra e música formam aqui um conjunto que incentiva a tocar o barco da vida, do mesmo modo que a própria canção é bem conduzida.

A música seguinte – “Em Tua Presença” – tem a mesma nuance de “Deus do Impossível”, apenas a letra parece continuar a mensagem da faixa anterior. Ela inicia uma sequência de canções que apresenta um tom mais característico de música de adoração. Isso não significa que o ritmo deva ficar cadenciado como ficou nessa faixa. Ela teria mais visibilidade se ganhasse também mais aceleração.

Seguindo a linha, “Coração de Adorador” mostra-se uma boa canção. Letra bem construída e melodia que se encaixa perfeitamente numa proposta despretensiosa. Mas o que rouba a cena nessa música é o saxofone do jazzista jaraguaense de reconhecido talento Jefferson Lescowich. Com participação especial no trabalho de Dayana, ele poderia ter sido melhor “explorado” (no bom sentido do termo).

Para fechar a trindade de adoração, “Vem Que É Bom” dá um update no clima e faz uma quebra necessária. É a única música do CD que tem o “espírito” de “música de igreja”, recomendável para abrir o culto de domingo. A letra, convidativa ao louvor, foi feita em parceria com Adilson do Nascimento. Ele fez a direção vocal do álbum e também co-assina a autoria de “Deus do Impossível”. As duas composições têm um ponto em comum: são voltadas para o público interno das igrejas. O que as diferencia é que a terceira faixa é mais reflexiva, enquanto “Vem Que É Bom” é mais descontraída.

A penúltima faixa explora o campo dos relacionamentos. “Quero Alguém”, como sugere o próprio nome, é uma espécie de oração em busca do amor ideal. A intenção não é nada fora de propósito, afinal, essa busca é empreendida por todos, cristãos ou não-cristãos. O que deixou a desejar foi a letra, imersa num tom piegas, embora sustentada por uma balada bem feita.

Para fechar o álbum, “Perfeito Amor”, de letra em parceria com Cláudio Ribeiro, foi uma boa escolha. A música também trata de relacionamento, mas desta vez é pertinente ao amor de Deus. Mais do que uma busca ou pedido, trata-se de um elogio, uma devoção, uma confissão de dependência. A canção peca, porém, no mesmo deslize de “Deus do Impossível” no que diz respeito ao título: “Perfeito Amor” é nome recorrente de músicas de outros artistas e remete com facilidade à faixa homônima do Oficina G3, ainda mais que, em alguns momentos, a melodia é de fato parecida. Embora seja um elemento exterior, ligado à memória do ouvinte, a recorrência tira o brilho de luz própria que a música tem em si e, ainda mais, a força de sua boa execução.

Ao largo desse dano, a última faixa encerra com competência um CD que, de modo geral, é também competente. Faltou ao álbum, se podemos exigir muito de um trabalho de estreia, uma pretensão à altura da conceituação do grupo que se reuniu para fazê-lo. Da voz de Dayana fica a sensação de que ela não usou toda a potência que tem, talvez por uma reverência ou maior valorização ao instrumental do disco. Em todo caso, o trabalho tem uma marca autoral definida, resultado de escolhas criteriosas e, sem dúvida, de dedicação, esforço e profissionalismo. Tudo isso nos faz acreditar que não devemos perder essa menina de vista, mesmo que ela já esteja morando em Curitiba (PR).

Antes de fechar essa análise e, diga-se de passagem, mais um conjunto de impressões de ouvinte atento do que um release técnico, um ode à arte do CD de Dayana Trindade. Belas fotos, imagens atraentes, boa composição. A qualidade do design está replicada também no site oficial: completo, relevante, bonito, atualizado.

1 Comentário:

Willian disse...

É muito boa a voz dela,é ótimo ficar ouvindo o CD.
Incrível o talento dela, há muita unção nas músicas, destaque para a música Daqui pra Sempre

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