Mulher é música. Homem, som
Mulher é música. Música é mulher. As duas: femininas. As duas: musas. As duas: divinas. Música é menina-partitura feita de letras e melodias. Mulher é cifra indecifrável, partitura ilegível, harmonia inconstante. Mulher e música: pura matemática, puro enigma, inexatidão. A música atrai como a mulher: inspira, envolve, acalma, anima. A música abraça, afaga e beija. Beija beijos de acordes ritmados pela boca. A mesma boca que canta a letra da música. Da mesma música que conta os segredos da boca. E do coração, e da alma, e do mundo. A música passeia nos ouvidos tal qual garotinha se exibindo no parque. Balança, escorrega, pula, corre, ri. Com os cabelos ao vento, as pernas compridas, o corpo magro vestido de roupas coloridas brinca a música-moça como se sinfonia-mulher já fosse. Quem olha também ri, quem escuta também dança. Música é mulher: as duas são crianças. Caminham pelas ruas, espalham-se, atravessando os ares, invadem casas, pensamentos, olhares. A música tem corpo de mulher. Tem ritmos, curvas e quebras. Cadência no andar, na afinação dos passos, na equalização dos sentidos. E a mulher tem alma de música: palavras bemóis, perfumes sustenidos, o mundo em si. O que a mulher canta agora, a música já disse antes. Mas uma mulher cantando já é pleonasmo redundante: dueto de uma coisa só.
Homem é som. Coisas masculinas: barulho, ruído, estalo, grito, estouro, zunzunzum. A música do homem é uma só. Som só, ordinário: um ritmo, um compasso, uma nota, uma escala. Uma fábrica monótona com esteiras repetitivas, vadias, vagarosas, vulgares. O som é homem-berro, voz estridente gritada por guitarras estranguladas, nervosas, suicidas. O homem, tal qual o som, é mecânico, industrial, frio e nivelado. Não dança nem faz dançar. É estátua de pés de ferro. Chumbo na voz, peito de bronze, melodias siderúrgicas. Homem é som reto e, ainda assim, desalinhado. Som pesado, de metais e calcário, mas, ainda assim, fraco, esponjoso, suspeito. No homem há vácuo, espaços vazios e decibéis sobrando. Balbúrdia estereofônica, carente de um dizer, de uma mensagem legível, de um canto. Ou de mera fala. Homem é som de ecos, redundâncias. O som é ecos de homens iguais, duplas sertanejas, rimas fáceis, estrofes mortas. Ser som é ser de uma masculinidade irritante. Aquela presente em buzinas, sirenes e campainhas: coisas femininas que traíram a música. O homem-som não canta. Não sabe. Apenas sussurra sons sem articulação, sem entendimento. O homem-som é feito de instrumentos, depende deles. Não é som por si só. Tira de cordas, de metais e de caixas acústicas a sua definição barulhenta, sua condição de casa velha a ranger. O homem é som. E seu som é explosão (nunca será fogo). E seu som é jato (nunca será lago). E seu som é ataque (nunca será guerra). E seu som é tumulto (nunca será manifesto). E seu som nunca brincou de música (nunca será criança). Eis o som: homem metalúrgico de carreira solo.
1 Comentário:
tchê, esquecemos de avisar a mulher que fornece o chocolate, entao se tu foi pega-la, levou bolo, sorry man, mas acabamos de ligar e na quarta feira de certeza amém?
e os brindes já estao lah radio amém?
valeu garoto!!!
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