terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Música: beba bem gelada

Desconfie de uma música que você ouve pela primeira vez e já a tenha como preferida ou a melhor de todos os tempos. Desconfie de uma música que você ouve pela primeira vez e já considere um lixo ou a pior dos últimos trinta mil anos.

As emoções inerentes à compra de um CD novo, ao download de um álbum inédito e ao escutar de uma música estranha na rádio sempre prejudicam uma avaliação no mínimo justa. Espere, acalme-se, deixe as emoções diluírem-se, deixe as músicas gelarem. Não abra a embalagem do CD no mesmo dia, deixe de lado, ignore-a e só veja o encarte no dia seguinte. Você pode até descompactar o arquivo baixado mas apenas adicione as músicas à biblioteca, deixando-as se acomodarem no HD. Não execute nenhuma. Esnobe-as. Se o som tocou no rádio, apenas procure pegar no final da música o nome e o cantor informado pelo locutor. Não, não ligue para a emissora pedindo a música de novo. Eles sempre tocam as músicas no mesmo horário. Olhe no relógio e espere até amanhã.

Depois de não se submeter à ditadura da música nova, abra a geladeira e tire o CD inédito, o álbum baixado ou sintonize aquela rádio. Não toque imediatamente, escute alguma coisa antes, outras músicas e artistas, o programa anterior. Acostume os ouvidos com o som. Ambiente o espírito para a novidade. Mas não abandone a displicência quando, finalmente, ouvir a canção pela primeira vez. Não vá para um lugar deserto ou se tranque sozinho no quarto. Se a música for ruim você pode tentar o suicídio ou quebrar o rádio todinho. Escute a música na sala, no trânsito, durante a aula de semiótica, quando seus sobrinhos estiverem em casa. Se a música for ruim, tudo bem, ela vai se misturar a barulheira toda. Se for boa, as pessoas nem vão notar.

O conceito de bom e ruim já aparece nos primeiros dez segundos de música. Isso não significa que se deva ouvir apenas a introdução para fazer a avaliação. Ouça a música toda. Não a execute várias vezes seguida. Não toque o CD novo o dia inteiro. Não faça a música se sentir indispensável. Não, não ligue para as rádios. Se a música for ruim, é certo que muitas pessoas já pediram. Não pare sua vida para ouvir a música nova. Trabalhe, estude, escreva, leia, lave as louças, brinque com o cachorro, grite com seu irmão, namore pelo MSN. Deixe que o novo som seja a trilha das tarefas cotidianas. Como o som da chuva caindo, do cachorro latindo, do ar condicionado barulhando ou do chefe resmungando. Se você começar a cantar, mexer o pezinho ou a mãozinha inconscientemente pode ser um sinal de que a música seja interessante. Se você fechar o player ou desligar o rádio, também inconscientemente, é sinal de que a música não preste.

Os indícios podem ser, no entanto, falsos. Mas pode crer firmemente que, se a música começar a tocar toda hora na igreja, na rádio, na vizinhança e nas festas de formatura, esqueça, é só um hit pobre de verão. Se você comprou o CD inteiro, perdeu dinheiro. Agora, se você acorda domingo de manhã, abre a janela e lembra de uma música, essa música é boa. Ninguém se lembra de música ruim domingo de manhã. Só na segunda-feira.

Ouça a música nova várias vezes, em dias alternados, em várias circunstâncias. Depois de quatro meses, se ela ainda estiver em alguma pasta no computador, pode marcá-la como preferida. Se você emprestou o CD, seu amigo não devolveu e você nem se deu conta, esqueça e não esquente: não traga o lixo para casa novamente. O que é bom permanece. O que é ruim derrete rápido. A boa música serve-se bem gelada, em qualquer tempo, com os amigos ou para o deleite próprio. Escute com moderação. E se ouvir, não dirija. Faça a música querer ser ouvida. Mas nunca a subestime. (Pelo menos não à primeita vista e ouvida).

[jb]

1 Comentário:

Juva Jr. disse...

Bons conselhos.
Tentarei segui-los.

Sou um péssimo "absorvedor" de música nova. Se não gosto ao primeiro ouvir, ouço diversas vezes até completar a osmose e aturar (leia-se gostar) o que estou ouvindo.

Principalmente quando eu compro um álbum. Porém nesse sentido não tive muitas decepções. Quando fui às compras já tinha certeza do que queria, por isso não tive problemas.

COmo perceberam, não sou um exemplo a ser seguido...

Falei muito e não disse quase nada....

hehe

Greatest Blog, John!

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