Som Off-Road
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Com a vulgarização do som das comunidades, a tendência para o aumento de artistas em carreira solo, a crise existencial de bandas tradicionais e a visão protecionista de igrejas, gravadoras e grupos de mídia, a esperança de que a música gospel se renove como expressão de qualidade artística e evangelismo inovador recai sobre os grupos e cantores que atuam de forma independente. Salvo algumas exceções entre os protagonistas de referência nacional, acredito que neste início de século, uma revolução do louvor e da música gospel como arte está sendo projetada pelos caminhantes à beira da high way evangélica.
Pequenos grupos, cantores “desconhecidos”, propostas que fogem à pop adoraction, trazem na bagagem o impulso da inovação, do fazer diferente, do experimentalismo. É certo que pode haver uma deficiência técnica, mas existe uma ânsia em fazer algo novo, sem ser meramente produto comercializável. Apenas um bom som, sem pretensões, sem a corrida de ser hit em palcos e rádios. E essa motivação faz toda a diferença. Motivação que parece perdida pelos grandes grupos. Eles ficaram cansados, velhos, repetitivos, chatos e moralistas demais. Passaram a imitar a si mesmos. O som off-road dos independentes é sangue novo nas veias elétricas e acústicas da música gospel brasileira: merece ser respeitado, apreciado e expandido.
Faltam boas surpresas. Há uma carência de criatividade, originalidade e credibilidade. Os independentes mandam bem porque têm muito dessas qualidades. Não tem os rabos presos com ninguém, a não ser com as próprias idéias. O espírito de quem trabalha off-road é a autonomia, a iniciativa própria, a obstinação. Não deixam de lado também, é claro, o compromisso com Deus e com o público. É interessante notar e saber que tem gente fazendo Celtic Rock, White Metal, Ska, Punk e MPB dentro do cenário gospel brasileiro. Fazendo bem, há bastante tempo e infelizmente sem a justa divulgação e reconhecimento. Além de ampliar o espectro de ritmos, esse movimento provoca um curto-circuito na discriminação musical que ainda existe no país. Os artistas independentes têm grande papel dentro desse possível contexto de inovações e aberturas.
Não reclamo aqui por um revival da música gospel (e da música em geral) em seu aspecto revolucionário e agressivo nos incríveis anos 80. Estamos numa época diferente que reclama suas próprias mudanças. Fãs, igrejas, artistas, vendedores e produtores estão envolvidos nisso. Podemos iniciar a segunda década do século com uma melhor perspectiva. Ou sempre afagaremos o saudosismo. Ou, talvez, teremos que invadir garagens por aí para ouvir coisa boa: sem selo, sem encarte, sem placa denominacional.
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[jb]
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